domingo, 31 de agosto de 2008

Away

Tô na TPM mental. E o melhor a se fazer nessa situação é ficar quietinha, pensar baixo, não sonhar, nem tomar atitudes por impulso. Manter a calma e acender incenso.

sábado, 23 de agosto de 2008

Quê?

Não acredito no findável, nas bolhas de sabão, nem em feridas, elas cicatrizam, um dia. Não acredito no interruptor, acende/apaga. Não acredito no rádio, prefiro a música, a voz, a mensagem; prefiro o que fica. Defendo a pedra, aquela pedra eterna que irriga as artérias e aortas, aquela pedra abstrata que embrulha barrigas alheias. Que domina pensamentos e atitudes friamente calculadas deliberadas, que simula loucuras, suicídios, vida. Prefiro o olhos fechados, os momentos guardados nas pálpebras, re-fazendo acontecimentos, camas redondas, espelhos no teto, poros, suor, sorrisos, ressuscitando cleópatras e plantando árvores. Isso é o que realmente fica, que cristaliza, e que me faz acreditar que só vivemos, de fato, quando lembramos.




Qualquer tentativa de se expor menos termina sendo frustrada, aqui nada é heterogêneo, é tudo do mesmo sexo. Aonde toda palha se transforma em agulha e qualquer toque seria fatal. Aqui os hormônios continuam na posição de réu. Beijos.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Leite.

Super tinha vergonha do que eu pensava, mas hoje em dia já dou minha cara à tapa. É, eu acho que vergonha é comum a todo mundo que escreve, assim, no início. Porque parece que você tá contando alí seu segredo mais íntimo. Aquele que até pro seu melhor amigo você só contaria à base de muitas drogas e sem lembrar nada do que disse no dia anterior. Mas é que você termina parindo tudo o que escreve. Hahahaha, exagerei no parindo. Mas é que me sinto mãe quando escrevo.

domingo, 17 de agosto de 2008

Addicted.

O que resta são os fatos, e algumas fotos. Os fósforos foram todos apagados, dos cigarros só ficaram as cinzas. Os medos? Ah, esses se foram junto com as roupas sujas, trancadas dentro daquela máquina na lavanderia. Os desejos estão na estante, agrupados por ordem alfabética, alguns com poeira em excesso em cima, outros amarelos de tão usados (desejados). As vergonhas estão de baixo da cama, óbvio. O perdão é tão leve que o vento levou, talvez esbarre em alguma pipa por aí.
A esperança é um rio, mas só se deve beber desse rio depois de todos os vícios. Os vícios são a salvação antes de recorrermos à esperança. Ela é a última, afinal. Por isso que ele escreve, é viciado nisso, e mesmo diante de todas as perdas, diante de todos os sentidos vivos em cima da mesa, ele prefere escrever a ter que se lamentar, prefere escrever a ter que sentir. Pra ele sentir é se perder, e ele prefere o vício à vida. Ele prefere deixar as roupas na lavanderia, não varre de baixo da cama, não limpa toda a estante, e deixa sempre as janelas abertas. O rio é muito longe de onde ele mora. Por isso que ele não existe, e o que fica, além de fatos, fotos, são as letras escritas pelo vento que entra sem cessar pela janela que ficou aberta depois de tudo. Fim.


(não sei o quê falta alguma coisa, mas...)

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Melhor não.

O escuro me dá medo, parece que não tem respeito por quem lhe deu a luz, parece que faz de propósito, pra enganar o próximo, seduz. É traiçoeiro, não respeita nem o travesseiro aonde deitam as cabeças com seus sonhos nus. Não quero escrever hoje, sério.

domingo, 10 de agosto de 2008

Fomos?

Domingo chuvoso, céu nublado, um sofá, almofadas, poeira, uns cds imorais numa instante antiga e duas vidas completamente distintas, ali, sentadas, confusas, cansadas. Compartilhando suas vontades, as mais íntimas, quem sabe, compartilhando alguns sonhos, algumas mentiras, compartilhando o sofá, a sala, o som. Dizer que eram vítimas do destino soaria clichê demais pra uma relação que fora friamente calculada pra ser e estar. Ali, sentadas naquele sofá. Tentativas frustradas de racionalizar as coisas, os copos, o outro. Melhor beber tudo de uma vez, engolir. Um mais interessado, o outro mais interessante. Um se entregando por entre as palavras que eram ditas sem querer, enquanto o outro se perdia por entre as partes desconhecidas do outro ser. Tão lindos, assim, vistos de longe. Não precisavam de mais nada, nem almofadas, cds, chuva, frio, nada. Só precisavam um do outro, e isso já tinham, de sobra. Talvez se tivessem até demais, não havia mais espaço pros dois, ali. Ou um ou o outro, ou os dois num só. Não sei o que decidiram. Mas imagino o que um escolheria, imagino. Não digo, íntimo demais pra algo que nem tenho certeza se sinto, nem se quero. Só dei das cores, do que elas me trazem, das vontades que delas nascem em mim, dos medos, e de algumas verdades verdes escondidas nas paredes da sala vermelha. Sei do cheiro, do dele, exclusivamente, dos pêlos, das ausências, das urgências que causo nele e que são causadas em mim. Sei do óbvio, do sentado, ali, no sofá, ao meu lado, calado, falando ininterruptamente coisas no pé de ouvido da minha mente tão mais presente. Quem diria que uma tarde aparentemente sem graça faria um bem enorme àquele espírito, àquele corpo que pensava estar perdido mas que se achou no Outro, no cheiro, no toque, no paladar, imaginar que fui quase-plena no plano mais simples do ser humano, nas circunstâncias demasiado estranhas, por entre a poeira e alguns cds imorais na estante. Eu fui.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Seria.

Júpiter seria uma ótima idéia.

domingo, 3 de agosto de 2008

01:43

Só restaram garrafas vazias e um cigarro prematuramente apagado. Nenhuma voz, apenas aquelas respirações fracas, aquele cheiro de vômito e algumas ressacas deitadas perto da piscina. Ninguém ali tinha alma, eram só as visceras, nada mais, nada além de distúrbios vasculares e respiratórios. Não tinham dignidade, tampouco vergonha. Os dias da semana serviam de descanso para eles, e os finais de semana um palco, para algo que nem sempre era recomendado para menores de dezoito anos, e nem para maiores: só para eles, e fim. Mantinham uma relação intersubjetiva indecifrável, um contato íntimo tão profundo, indescritível. Não chamavam de vida, chamavam manifestação, a manifestação do corpo, do desejo, e a religião era um tipo de neo-hedonismo, coisa estranha, nunca consegui decifrar. Pelo menos tinha certeza que eram bom no que faziam, parece que tinham nascido pra isso: a arte do prazer. E olhe que não é tarefa fácil, nem todos conseguem ter prazer como eles. As pessoas são duras, mecânicas, nem o sexo traz mais prazer, parecia mais um exercício pra diabéticos suarem. Porra, como desaprenderam a fazer sexo? Antigamente era tão prático, tão fácil, bastava algumas doses, alguém do sexo oposto (ou não) ali do lado, vontades, e um bom beco úmido e escuro. Mas hoje em dias as pessoas têm tanta pressa, tanto trabalho pra pouco dinheiro, tantas torneiras abertas para serem fechadas, luzes acesas esperando para serem apagadas, crianças perdidas deitadas esperando para serem cobertas por alguém que também queira contar histórias para elas dormirem, portas abertas, roupas sujas... e o tempo que parece muito é nada, parece até que é gasto em vão por entre os passos apressados, daqueles pés que pouco se encontram, dos neurônios que são queimados a cada piscar de olhos e menos. E a alma que ainda resta fica louca pra se pôr pra fora desses corpos cheios de engrenagens enferrujadas que esperam ansiosamente a chuva para se deitar. Queria ter nascido como eles, com vida.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Falta de ar.

Demorou um pouco pra atender o telefone. Talvez fosse medo. Não queria deixar transparecer o nervosismo, nem a ânsia quase incontrolável de querer verbalizar tudo que sentia, tudo o que pensava, tudo que via. Até pensou em atender e sair falando descontroladamente, sem vírgulas, sem pausas. Mas ela sabia que isso nunca funcionara, conhecia bem seus pontos fracos, e eram tantos que ela nunca ousou mudar, era melhor assim, pensava. Passava horas em frente ao espelho reproduzindo tudo o que gostaria de dizer, e tudo que gostaria de ouvir, inclusive. Se contentava com o silêncio do outro lado, os opostos se atraem, dizem, desligava satisfeita e sorridente, sempre. Era até cômodo, mecânico: Ligo, falo, desligo. Rotina, cotidiano, dia-a-dia. Mas hoje não, hoje eu vou atender esse telefone e vou respirar bem fundo, manter a calma, silenciar, tenho certeza que ele vai notar a diferença, vai até pensar que eu não gosto mais, que esse é o início pro fim. Olha, eu só queria dizer que eu cansei de flutuar, quero pisar no chão, quero o concreto, a matéria, a carne, cansei de prazeres líquidos, quero morder, mastigar, cuspir. Já consigo traduzir esse teu silêncio infindável, esse teu medo consciente de acreditar, de ter fé nas palavras, nas pessoas, nos sentimentos, tá me ouvindo? Pois é, é exatamente isso, e não, não precisa responder, só respira pra eu saber que me ouves, pra eu saber que aí do outro lado ainda existe vida, corpo, alma. Ah, caso eu te ligue de madrugada, não me atende, deixa tocar até disparar o meu coração. Me deixa. Eu quero afundar nas minhas verdades, nas coisas que eu nunca deixei de acreditar, quero perder a voz, perder teu telefone, deixar que a tua vida escape por entre as minhas mãos que nunca, sequer, conseguiram alcançar as tuas, tão perto, tão longe.
Mas agora eu preciso desligar, tá tarde, e eu já não sinto mais nada, já não penso, não vejo, só não esquece de respirar, tá? Tem alguém aí?