domingo, 4 de janeiro de 2009

pneus.

Agora senta aí e presta bem atenção: você não está cansada, não? nem doente? e o tal enjôo? E essa vida, as ligações, esse telefone aí, os números, a sorte. Cadê?! E esse vento, e o tempo, e as palavras, mulher, cadê? Acorda! Levanta! Tas cansada, não? Tas viva, pelo menos?! Viaje. Por que não pra Marte? As passagens pra Saturno estão com um preço ótimo, se tu fores rápida ainda consegues pegar o verão, as praias... vai, se manda, some, desaparece, evapora. Vira gás e voa, embaraça cabelos mais cheirosos, esfria essa cabeça quente, balança essas folhas que estão paradas aí há anos, marrons e secas. Desliga essa luz, essa televisão de 14 polegadas comprada a prazo, abre as janelas, respira, inspira, expira, se vende, se tente, se acredite, se desprenda, aprenda. Andar é bom, caminhe. Espelhos, reflexo, desligue esse tédio, escreva. Compreenda o círculo, analise a roda, a volta, o chão, pise, sinta. Pneus também servem. Qualquer coisa que gire, que circule, oscile, que mude, que passe e que retorne. O retorno é muito importante. O retorno é a revisão, e é também a prova. Você aprendeu mesmo tudo? Aí você me responde com isso, com esse desespero súbito, essas mãos presas ao cabelo, esse vermelho, esse ódio. Pra quê? Te pergunto. Olhe isso, lembre-se do círculo, gira, gira, gira... lembrou? Esse é o melhor remédio, é a cura, é exatemente disso que você precisa, de remédios, de limites. Limites, eu disse. Simples, na farmácia da esquina você pode encontrar o genérico, é mais em conta e tem a mesma eficácia. Você pode até aproveitar e comprar um esparadrapo, éééé, es-pa-ra-dra-po, pra colocar no meio da sua cara, melhor, na sua boca. Cale-se. Reaja de outra maneira, comece fazendo sexo sem amor, aprenda algum instrumento, leia, desenhe, rabisque as paredes do seu quarto, e quando tudo voltar e você se vê nesse estado de novo, lixe as paredes e as pinte. Se suje, se limpe. Se seja, não importa como, se veja. Mas fique calada, tome esse limite, e cale-se. Desligue esse telefone, pelo amor de Buda, de Gandhi, de Jah, de Deus. E não se preocupe com a conta: o mundo gira, esqueceu?

Um comentário:

Laura Bourdiel disse...

A-D-O-R-E-I seu texto... me sinto assim as vezes...

"... As vezes acredito ser incapaz de algumas insanidades, até que um dia, assim, do nada... baixa a Carmem Miranda, tira as tamancas e roda a baiana.
Depois, entre o espanto e a culpa, um espelho acusador pergunta descaradamente se essa aí, posando de boa moça, é você mesma. E é. Intensa, ensandecida e pelas tabelas - mas não se engane, meu bem - continua sendo você."

viu! rs...

Feliz ano novo!
¡besitos!