terça-feira, 16 de setembro de 2008

Ao que fica.

Do movimentar das mãos, dos dedos, os cabelos, o vento, o vinho, um ninho, vazio. Das horas passando como se fossem segundos, a ânsia pelo futuro, o muro. O escuro que fica na vista cega da saudade que invade sem pestanejar a vida, a minha. Perdendo o rumo, o ônibus, a noção de tempo e espaço, o passo, o andar devagar de quem não quer passar, de quem gostaria de ficar ali, sentado, parado, pensando, sentindo, estático. Deixando escapar os vestígios das vontades, da saudade, dos desejos mais primitivos que antes reprimidos, mas agora claros, vistos a olho nu, na testa, na pele, no sorriso, no movimentar das mãos, dos dedos. Quem sabe, assim, os medos serão esquecidos debaixo daquele tapete amarelo, velho, pisado, cheio de rastros de vidas passadas, libertando apenas as coisas amadas, adoradas, aproveitadas, derramadas a esmo na mesa, na minha. Olho o tempo e contemplo e entendo que passa, que escapa das mãos como se fosse vento, como se fosse nada, mas é muito e muda e muito. E me prendo ao suor, as entranhas, as façanhas pra conseguir fazer parte do eu do outro, das tentativas inúmeras de querer ser inesquecível e ser, de fazer sentir o impossível, enxergar o invisível e quase invadir o outro por inteiro, num impulso derradeiro, cabal, fatal.

2 comentários:

Bárbara Lima disse...

Depois estagna, perde a crença, desilude, refaz, ilude, alimenta, cata as entranhas..

Laura Bourdiel disse...

O corpo é pluridisciplinar. É matemática, soma, divide, equaliza, comporta formas sofisticadíssimas.
Mais que tudo, nos ensina a olhar cada palavra com outros olhos. Nos ensina a puxar gemidos de palavras gastas, desbotadas, desacreditadas, a virá-las do avesso e encontrá-las fora do lugar, a brincar com seus múltiplos significados, quase numa brincadeira de esconde-esconde, onde a maior graça é justamente a de surpreender. Seu texto está lindo, cheio de linguagem corporal. Quase um jogo de verdade ou desafio...parabéns!