domingo, 22 de agosto de 2010

RaioX high tech




















- A gente devia aderir à moda de andar pelo avesso. Inverter as camadas da pele, deixar o coração pendurado do lado de fora, os neurônios funcionando a céu aberto, a sinapse acontecendo a olho nu... Assim a gente sabia, desde o primeiríssimo contanto, exatamente quais são as intenções do outro estranho.

- Do eternamente estranho inclusive, se não se colocar pelo avesso.

- É, se as sinapses não acompanhassem o mesmo ritmo, se a sístole e diástole de um acontecessem 4x mais depressa que a do outro, se o sangue de um parecesse ter mais pressa que o do outro pra chegar à cabeça e oxigenar o cérebro já cansado de tanto decodificar a libido daquela situação: Adios e pronto. Mas, po, lidar com humanos que, assim como um iceberg, só deixam uma pontinha de si à mostra é, constantemente, se equivocar. A comunicação é sempre falha, sempre. Digo comunicação no sentido de passar pra consciência do outro o que se passa na sua. O que o outro tenta dizer nunca nos é perfeitamente compreendido. Algo sempre fica no meio do caminho, procurando loucamente uma entrelinha pra se encaixar. Entrelinhas filhas da puta!

- Comunicação também no sentindo de fazer com que a recíproca seja verdadeira, porque a gente também quer saber o que se passa naquela consciência isolada e individualista do outro, né?

- Isso! Até os gestos, se fosse possível, seria bom que pudéssemos traduzir. Mão no bolso significa, mão na cabeça, perna cruzada, pescoço inclinado pra direita... Pra captar todos os sinais, não deixar que nada escape, não abrir nenhuma brecha.

- É... E, se possível, ter um encontro como quem assiste a um filme legendado, com as letrinhas embaixo traduzindo cada coçada no queixo, cada ajeitada de sobrancelha etc.

- Mas e depois? Será que o total domínio sobre o outro, sobre o que se pensa&faz, seria, de fato, interessante? Ou será que pararíamos, cansadas pela previsibilidade cansável do sujeito, de tentar conquistá-lo? E ia sobrar um sentimento de insolência depois de ter revirado tudo por dentro do outro com o desejo de controle total da situação.

- ...

- Além da sensação de vazio que fica depois de uma procura do caralho que não nos leva a nada, a não ser a um lugar de completo conforto e comodismo diante do que a gente já sabe, e que nos faz parar, nos equilibra - equilíbrio no sentido de algo estático, apenas - que nos congela diante do nada de novo.

- Antes sair por cansaço, que cheia de energia condensada.

- É.

babi
zu

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