sábado, 17 de outubro de 2009

vazio e meio.

Como é difícil olhar os outros com os mesmos olhos que nos olhamos. A empatia nunca foi tão inalcançável como hoje em dia. Sentir o que o outro sente sendo isto diferente do que a gente sente é quase um universo paralelo. O outro é, de fato, outro, alguém distante, fora de si, ausente, discrepante! Um limite indubitavelmente insuportável, o muro de berlim dos desejos, o que me restringe, o que me adia. Esqueço que a minha simples existência depende de um fator imprescindível: o outro! E a liberdade, aquele pote de ouro no final do arco-íris, de nada me serviria se no mundo só a minha existência fosse reconhecida. Talvez por isso os nossos olhos não sejam nas pontas dos dedos, e sim no rosto, face essa que só é capaz de olhar o outro e não a si. Preciso de um espelho, algo fora de mim, que me mostra, que me simula, que nada sei sobre mim diante do que é refletido. Um simulacro, e nada é revelado. Meus olhos mentem, os olhos vivem de aparência. Doença, demência que entorpece a todos, que cega ao mesmo tempo que enxerga, que avista e avisa e mente, mentiras os olhos dizem todo dia. Mas e os ouvidos, e os sentidos e. Estão todos contra mim, estou eu contra todos? Contra o outro, contra mim que também sou outro, contra meus sentidos, meus olhos que tanto achei que me guiavam? Em quem/que eu devo confiar? Em minha consciência que não sei se é consciente, ou em meu inconsciente que nem sei se existe? No meu sexto sentido... e ele existe? Preciso de uma mão que não a minha, preciso do pulsar de outrem, do olhar de outrem, da voz. Me guio pelo aroma do outro, pelo cheiro de carne viva pulsante, pensante. Preciso do excesso do outro pra me completar. Sozinho sou um vazio e meio.

Nenhum comentário: