sábado, 27 de dezembro de 2008

0504

Do décimo sétimo andar daquele prédio, sentada no tapete persa na frente da varanda, olhando todos aqueles outros prédios cheios de luzes acesas, e ao som de "the nigth I fell in love" da minha fase pet shop boys, eu poderia imaginar tudo que gostaria, na verdade aquele som me estimulava, me inspirava demasiadamente. Pensava num vinho doce, piso bem gelado e branco, meia luz, algumas velas e ele. Alguns diriam que eu quis pouco demais. Não! Isso era muito, era tudo. Você não sabe o que é se sentir intimamente em paz. Em equilíbrio não, em paz. Equilíbrio já me foi um objetivo na vida, mas hoje em dia só me remete a coisa estática, parada; em equilíbrio. Precisava me movimentar naqueles dias frios de solidão. Só os solitários sabem o que é sentir frio nesse calor de trinta e oito graus. Queria algo dinâmico, desequilibrado, desassisado, sem rumo. Onde eu seria o porto, o centro, a luz no fim do túnel! E existe sensação mais aprazível do que ser a solução? Eu nunca quis tanto ser o leito, o peito, o travesseiro pra você deitar. Eu tinha uma cama grande, onde caberia muito amor, num quarto também grande, onde caberia muita luz, ou muita escuridão, onde caberíamos nós dois inflados de orgulho, explodindo de raiva, transbordando paixão. E não haveria guarda-roupas, nem criado mudo, nem abajur, só uma janela imensa do tamanho da minha vontade de você, e nela também caberia nós dois juntos em pé de mãos dadas prontos para dar um começo a tudo àquilo que nunca teve um fim porque simplesmente foi impossível de existir. Prontos para o mundo, para a queda sem dor, porque juntos estaríamos imunes a qualquer sensação terrena, juntos seríamos virtude, ventura. Depois de cinco minutos e quatro segundos eu consegui acordar e me deparei com o silêncio na sala, algumas luzes daqueles prédios vistos da varanda haviam sido apagadas, no asfalto só podia ser visto alguns gatos e um mendigo ébrio gritando algo que pela distância se fazia incompreensível. Racionalizar tudo aquilo era doloroso demais, quase um sortilégio. Viver é um verbo árduo demais de se conjugar.

Um comentário:

Katarine Araújo. disse...

MEU IRMÃO,tu escreve muito po,deixa de ser tabacuda! hahaahhahahaah

eu me senti me jogando da janela dela.

adorei,lindo,linda.